China aproveita crise para ampliar influência internacional
da Agência Lusa, em Lisboa
A China se transformou no início deste ano na terceira maior economia mundial e pode sair ainda mais forte da crise, mesmo como a desaceleração do crescimento econômico. Apesar disso, a expansão do PIB chinês deverá estar entre as maiores do mundo.
Para 2009, o Banco Mundial advertiu que a economia chinesa --em desaceleração desde meados de 2008--, deverá expandir 7,5%, o nível mais baixo desde 1990.
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Apesar do impacto, a China está assumindo uma posição de liderança no mundo, enquanto as nações mais poderosas se fecham sobre si mesmas, cautelosas com a crise.
Consolidar as relações políticas e econômicas é exatamente um dos objetivos da visita oficial que o presidente chinês, Hu Jintao, realiza a vários países da Europa nesta semana, acompanhado de comitiva governamental e empresarial.
Pequim tem reverberado outro tom na política mundial --apesar da continuação das críticas do ocidente quanto à sua política de direitos humanos--, além de aproveitar a crise para aumentar sua influência e deixar de ser conhecido apenas como o país que produz 63% dos sapatos e 75% dos brinquedos do mundo.
Uma das estratégias continua a ser comprar matéria-prima.
Na África, por exemplo, a China opera mediante acordos de troca. Financiamentos a projetos de infraestruturas (como estradas, barragens) contra concessões de exploração de jazidas minerais.
A China é o maior consumidor mundial de cobre, zinco, alumínio e aço e o segundo maior de petróleo. Pequim estabeleceu acordos de fornecimento de petróleo com o Brasil, Venezuela e Rússia.
Região crítica
Na Ásia Central, região estratégica para a economia chinesa, mas de tradicional influência russa, a presença de Pequim nunca foi tão forte. O petróleo cazaque e o gás turcomeno despertam inevitavelmente o interesse de um país devorador de energia como a China.
O investimento em importantes setores econômicos e em projetos de infraestruturas na região ajudam também Pequim a garantir a segurança nas suas fronteiras.
Desde a queda da URSS em 1991, a longa fronteira entre o Cazaquistão e a região autônoma de Xinjiang é uma das principais preocupações de Pequim.
Último sinal deste interesse foi o crédito anunciado pelo presidente chinês, Hu Jintao, de US$ 10 bilhões à Organização de Cooperação de Xangai (China, Rússia, Cazaquistão, Tadjiquistão, Quirguistão e Uzbequistão) para lidar com a crise.
Ao investir na infraestrutura do Cazaquistão, Tadjiquistão e Quirguistão, países pobres e desestabilizados pela queda da URSS, Pequim espera travar movimentos nacionalistas e garantir o acesso dos seus produtos aos mercados locais.
Por outro lado, em setembro do ano passado, a China destronou o Japão como principal fonte de financiamento dos Estados Unidos.
E de acordo com um relatório do governo japonês, a economia nipônica em breve deixará de ser a segunda do mundo, estatuto que detém há 41 anos, para ser ultrapassada pela China.
Instabilidade social
Para as autoridades chinesas, uma taxa inferior a 8% não permitirá produzir emprego para 15 milhões de chineses que todos os anos deixam o campo e para os sete milhões de jovens que anualmente saem das universidades.
A preocupação dominante de Pequim são os conflitos sociais, protestos e manifestações que podem ameaçar a estabilidade do regime.
Dados oficiais, citados pelo Outlook Magazine, um semanário publicado pela agência de notícias oficial Nova China, indicam que dez milhões de trabalhadores migrantes estão desempregados e os conflitos trabalhistas aumentaram 94% nos primeiros dez meses de 2008.
Desde o início do terceiro trimestre do ano passado, as ofertas de emprego diminuíram 5,5%, especialmente no sul do país, região exportadora.
Controle político
As reformas políticas não acompanharam o ritmo da mudança econômica e o Partido Comunista chinês mantém o monopólio do poder e o controle severo da população.
As autoridades continuam a perseguir qualquer sinal de oposição e continuam a enviar dissidentes para campos de trabalho.
A situação no Tibete é um exemplo da manutenção desta política, apesar das críticas da União Europeia e dos Estados Unidos, cuja "simpatia" pelo líder tibetano Dalai Lama é repetidamente denunciada por Pequim, o que não impede os responsáveis chineses de procurarem sintonias cada vez maiores com as grandes economias ocidentais.
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