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Capital protegido é opção duvidosa

4/22/2009 06:55:00 PM Eduardo Fonseca 0 Comments Category :

Para iniciantes, pode ser uma alternativa

Imagem: Marcelo Corrêa/AE

Segunda-feira, 20 de abril de 2009, 03h00

Alta de 55% do Ibovespa desde o fundo do poço corrigiu distorção e capital protegido pode limitar recuperação

Mariana Segala - AE

A chance de investir em renda variável com a certeza de ter o dinheiro de volta em caso de prejuízo – possibilitada pelos chamados fundos de capital protegido – é tentadora, principalmente depois da alta registrada pela Bolsa de Valores de São Paulo desde que atingiu o fundo do poço, no fim de outubro. De lá para cá, o Ibovespa (principal índice de ações do mercado paulista) subiu quase 55%, o que, sob a ótica de uma avaliação superficial, poderia indicar risco de ganhar menos com ações daqui para frente. Ainda assim, a opção pelos fundos de capital protegido é desaconselhada por muitos especialistas porque, para proteger a aplicação inicial, limitam os ganhos do investidor.

A exceção à regra são os investidores iniciantes. “O fundo de capital protegido serve apenas como uma espécie de iniciação ao mercado, na medida em que o investidor brasileiro tem pouca cultura de bolsa”, afirma o sócio-diretor da consultoria Hera Investimentos, Nicholas Barbarisi. “São para quem tem um perfil de investimento muito conservador.”

Mesmo para tais casos há quem sugira alternativas. “Não faz sentido entrar num investimento para perder menos”, diz o sócio da consultoria M2 Investimentos, Luiz Medina. “Se acredita que a Bolsa vá subir, entre nela. Se não, entre menos. Antes destinar R$ 1 mil para ações do que R$ 5 mil para um fundo de capital protegido”, acrescenta.

A reserva dos especialistas vem do custo de oportunidade embutido nestes fundos. Explique-se: normalmente atrelados ao desempenho de um papel ou de um índice de ações, estas carteiras fazem operações envolvendo contratos futuros e opções. Aceitam depósitos apenas durante um período predeterminado e o dinheiro não pode ser resgatado antes da data de encerramento (normalmente em um ano e meio ou mais). A remuneração depende de cenários traçados pelos gestores, que estabelecem barreiras de alta – ou seja, o aplicador leva a rentabilidade das ações ou do índice até certo nível. Mas se a variação positiva ultrapassar tal patamar, o retorno são juros prefixados. Caso seja negativa, o cliente recebe o dinheiro inicialmente investido de volta.

Ocorre que os juros no Brasil, embora em tendência de queda, ainda são considerados muito altos para compensar o risco de eventualmente não se levar um único centavo a mais para casa. “Temos as maiores taxas do planeta. Por isso, diante de qualquer receio demonstrado por nossos clientes quanto à renda variável, não pensamos duas vezes em levá-lo para a renda fixa, não para um fundo de capital protegido”, destaca Medina.

Para o gestor de carteiras da consultoria Verax Serviços Financeiros, Pedro Lérias, fundos de capital protegido até podem ser uma forma de começar a investir em renda variável. “Mas acredito muito mais em calibrar direito a proporção de renda variável no patrimônio do investidor do que em fazer uma aplicação garantida que limita o potencial de ganho na alta”, afirma.

De acordo com dados do site financeiro Fortuna (www.fortuna.com.br), somente neste ano foram lançados nove fundos de capital protegido. No ano passado, diante da volatilidade causada pela crise financeira internacional, foram 34.

Fundos sofisticados

Os fundos de capital protegido se sofisticaram com o tempo. Saíram de produtos referenciados no Ibovespa, com dois ou três cenários de rentabilidade, para fundos que acompanham o desempenho de outros índices ou ações em especial, como as de Vale e Petrobras. A estrutura também ficou mais complexa, com até seis cenários de retorno, ampliando as possibilidades de ganho do investidor.

Mais recentemente, o Banco do Brasil lançou outros dois fundos de capital protegido com conceitos inéditos no Brasil. Direcionadas para os clientes do segmento private, as duas carteiras são referenciadas em indicadores nada tradicionais: um índice de commodities agrícolas e outro de ouro.

A idéia foi criar produtos com correlação negativa para que fossem complementares, segundo o gerente-executivo de Distribuição e Produtos da BB DTVM, Carlos Massaru Takahashi. “As commodities agrícolas são ativos que tendem a render bem com o mundo voltando a crescer”, afirma. “Já o ouro vai bem quando o clima é de maior aversão a risco.” A proteção do capital nos fundos se dá pela aplicação de cerca de 85% da carteira em títulos públicos. Os fundos vencem daqui a dois anos – antes disso, não é possível resgatar o dinheiro.

O BB Multimercado Capital Protegido Commodities Agrícolas é referenciado no Índice Deutsche Bank Liquid Commodity Index (Optimum Yield Agriculture Excess Return), do Deutsche Bank, composto por trigo, milho, açúcar e soja. Já a rentabilidade do BB Multimercado Capital Protegido Ouro está vinculada ao Índice Gold London PM Fixing, calculado por cinco bancos estrangeiros. Os fundos investirão nos índices por meio de notas estruturadas e registradas na Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip).

No fundo de commodities há dois cenários. Se o índice tiver desempenho negativo no período (calculado pela média de oito medições, uma por trimestre), o investidor recebe o dinheiro investido de volta. Se for positivo, recebe 100% da rentabilidade do fundo (e não do índice). No fundo de ouro, são seis os cenários, tendo como resultado a volta do capital inicial, uma taxa prefixada de 20% para o período ou 100% do retorno do fundo.

Na opinião de Lérias, da Verax, tais fundos podem ser interessantes – mas por conta do tipo de investimento que fazem, e não da proteção do capital. Ele destaca que é difícil encontrar fundos referenciados em ativos como commodities agrícolas ou ouro no Brasil. “O acesso é muito limitado”, afirma. “Uma forma mais eficiente de investir seria com o acesso direto aos ativos. Na ausência disso, os fundos têm um mote atrativo.”

Publicado em: 20 de abril de 2009, 03h00

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