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O Brasil e a crise nos EUA

1/28/2008 06:30:00 PM Eduardo Fonseca 1 Comments Category :

Apesar das incógnitas, a sacudida financeira atual deveria servir de "alerta vermelho" para o Brasil resolver um dos últimos e maiores obstáculos para o crescimento sustentável: o escândalo de viver além das possibilidades, mesmo sugando em impostos 38% do que a sociedade produz.

Vale ressaltar que a turbulência dos mercados ainda não chegou à economia real (empresas, empregos e renda) e que há chance de ela causar estrago apenas moderado na economia global. Há inclusive dúvidas se os EUA entrarão ou não em recessão.
Nesse momento de incertezas, vale olhar para o que ocorreu nos EUA há seis anos. O país não apenas protagonizou o estouro da chamada bolha da internet em um momento de forte endividamento das empresas, com vários escândalos corporativos, como sofreu o maior ataque terrorista da história no 11 de Setembro de 2001.


Poucos meses depois do tranco, os EUA estavam novamente de pé. Mais: empurraram o mundo para o seu mais longo período de forte crescimento em mais de três décadas, até 2007.
Na atual crise, as empresas norte-americanas têm pelo menos três trunfos: 1) tiveram nos últimos anos os maiores lucros da história; 2) cerca de 40% de seus ganhos são gerados hoje fora do solo norte-americano, epicentro da crise, concentrada no mercado imobiliário; e 3) estão aumentando fortemente as exportações com a desvalorização do dólar (as vendas externas americanas subiram 13% em 2007).


Foi exatamente essa exuberância toda que alimentou a crise, com operações de empréstimos temerárias a consumidores e compradores de imóveis nos EUA. No setor imobiliário, a oferta de dinheiro levou 70% dos americanos a terem, no ano passado, pelo menos uma casa própria (quitada ou sendo paga).
Como efeito da atual crise, espera-se agora que 2 milhões de norte-americanos tenham de devolver seus imóveis por falta de dinheiro para pagá-los. Cerca de cem fundos que montaram financiamentos imobiliários devem desaparecer, amargando prejuízos superiores a US$ 400 bilhões.


A atual volatilidade nas Bolsas mundiais é resultado desse rombo, entre outros. Como os investidores internacionais ganharam muito dinheiro em praças como o Brasil (a Bovespa subiu 44% em 2007, e 410% desde 2003), eles estão realizando parte desses lucros (vendendo ações) para cobrir perdas em outros locais, nos EUA principalmente.

A grande incógnita hoje é se as empresas de crédito norte-americanas vão fechar as torneiras aos consumidores. O que é certo: se houver crédito, os americanos vão continuar gastando como fazem há décadas, aliviando os temores de recessão. Os cortes de juros feitos pelo banco central americano (Fed) apontam nessa direção.

Um exemplo: há sete meses, um norte-americano que procurasse um imóvel para comprar, pagaria juros de 7% ao ano em um "papagaio" de 30 anos. Hoje, esse mesmo crédito sai por 5,3% ao ano, e os preços dos imóveis caíram abruptamente. Ou seja, mesmo no epicentro da crise, o mercado imobiliário, há espaço para recuperação.
E o Brasil? Cerca de 16% das exportações brasileiras vão para os EUA. Se os EUA esfriam, não apenas essas exportações diminuem mas também as destinadas a outros países (como a China) que têm nos EUA um grande mercado.
O atenuante é que, a exemplo das empresas norte-americanas, as brasileiras, européias e asiáticas também ganharam muito dinheiro nos últimos anos e reduziram fortemente suas dívidas. Ou seja, têm um colchão mais grosso para agüentar um período de solavancos.


No caso do Brasil, embora o país tenha crescido menos do que a média mundial nos últimos anos, houve melhoras macroeconômicas significativas: o país acumulou US$ 185 bilhões em reservas cambiais, praticamente zerou a dívida interna atrelada ao dólar e produziu fortes superávits comerciais. Resultado disso é que, ao contrário de outras crises, o dólar permaneceu manso diante das turbulências dos últimos dias.
Como dito no início, porém, o Brasil continua vulnerável devido à gastança incontrolável do setor público. Em um cenário de recessão nos EUA e de desaquecimento por aqui, a tendência é de queda na arrecadação de impostos.
Se isso ocorrer, teremos dificuldades sérias, já que o país já tem problemas para fechar as contas crescendo 5% ao ano. Se crescer menos, será pior ainda.


Fernando Canzian, 40, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras.

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1 comentários

  1. Bom Dia!

    Ótimo seu blog, gostei muito!
    Este post tambem está de parabens!
    Estou criando um blog tambem, sou de uma corretora da BM&F, futuramaringa.blogspot.com.
    Gostaria de umas dicas!!

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