Bovespa atrai compras
Qui, 16 Ago, 18h50
Por Juliana Siqueira
SÃO PAULO (Reuters) - A Bolsa de Valores de São Paulo chegou a cair quase 9 por cento nesta quinta-feira, diante da intensificação das preocupações sobre o mercado de crédito no mundo, mas o nível atraiu compradores e a Bovespa acabou fechando em queda bem menor, de 2,58 por cento.
O principal indicador da bolsa paulista encerrou a sessão a 48.015 pontos. Uma recuperação de Wall Street nos últimos minutos do pregão contribuiu para a melhora do mercado acionário local. O volume financeiro ficou em 8,4 bilhões de reais, o dobro do giro médio deste ano.
Foi o sexto dia seguido de perdas, que levou a bolsa ao menor nível desde meados de abril. Do fechamento da última quarta-feira até a mínima do dia nesta quinta, a queda atingiu 18,6 por cento.
Mesmo com o quadro atual, vários analistas mantém o otimismo no longo prazo, embora alguns prefiram a cautela.
"A gente acredita que no longo prazo é um excelente momento de compra", disse disse Daniel Gorayeb, analista de investimentos da corretora Spinelli.
"Estamos vendo uma crise de liquidez. O problema é se ela começa a criar problemas em cascata. Não é uma coisa que esteja acontecendo ainda. Por enquanto, é um receio de que isso possa acontecer. A gente acredita que isso não deve gerar maiores problemas para a economia", acrescentou.
A Spinelli mantém a previsão de que o principal indicador da bolsa paulista encerre o ano entre 60 mil e 65 mil pontos.
PRESSÕES
Entre as notícias que deterioraram o sentimento do mercado estava a de que a Countrywide, maior concessora de hipoteca dos Estados Unidos, teve que acessar uma linha de crédito de 11,5 bilhões de dólares para financiar suas operações. Além disso, houve a divulgação de um indicador de atividade no Meio-Atlântico dos EUA que veio bem abaixo do esperado.
"O prejuízo do setor hipotecário em si, é absorvível. O problema é que isso acaba interferindo nos outros créditos, na liquidez do sistema", disse Álvaro Bandeira, diretor da Àgora Senior CTVM.
"(A Bovespa) vai parar (de cair) a hora que se tiver uma idéia de como esses problemas se alastraram pelas empresas, pelas instituições bancárias, e quais as atuações dos bancos centrais. No final, a gente vai ter que avaliar se teve algum efetivo e forte impacto na economia global suficiente para mudar fundamentos", acrescentou Bandeira.
Jacopo Valentino, administrador de renda variável da BNP Paribas Asset Mangement Brasil, no entanto, acredita que o pior já passou.
"Acho que a chance de no final do ano a bolsa estar nesse nível (atual) ou mais baixo é bem pequena. A partir de agora é para ficar atento com a cabeça de comprar. O grosso do ajuste já aconteceu", disse Valentino.
Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da corretora Souza Barros que atua no mercado desde 1979, também recomenda a compra.
"Eu estou comprando para clientes meus. Isso é uma crise de mercado, não é uma crise econômica, por enquanto isso não afetou os fundamentos da economia", disse ele. "Se começar a ter reflexo na economia, aí é outra história."
As duas ações mais líquidas do Ibovespa, Petrobras e Companhia Vale do Rio Doce caíram 2,97 por cento e 0,77 por cento, respectivamente.
"As empresas brasileiras estão muito pouco alavancadas, a economia brasileira está muito bem, com dados favoráveis, isso tende a suavizar o movimento no Brasil", disse Gorayeb, da Spinelli.
A queda desta quinta-feira reduziu o ganho da Bolsa no ano, que há cerca de um mês superava 30 por cento, a 8 por cento.
"Nos preocuparíamos sobre essa queda se tornando um mercado negativo duradouro se os fundamentos regionais estivessem se deteriorando drasticamente, e eles não estão", afirmou Geoffrey Dennis, analista do Citigorup, em relatório.
EMPRESAS PERDEM US$210 BI
As empresas brasileiras perderam 209,7 bilhões de dólares em valor de mercado de 19 de julho a 15 de agosto, segundo levantamento da consultoria Economática com 316 companhias no país.
Pesquisa com 775 empresas dos sete principais mercados da América Latina (México, Venezuela, Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Brasil) revela queda total de 322,2 bilhões de dólares.
Enquanto isso, as 1.204 maiores empresas por valor de mercado dos Estados Unidos tiveram queda de 1,65 trilhão de dólares.
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